sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Teleguiados



Eles nos contam o mundo, nos dizem o que existe lá fora. Nos falam de suas cores, sons e cheiros. Narram um mundo exótico habitado por animais e plantas que desconhecemos. Passamos a vida imaginando como seria esse mundo, viajamos nele em episódios diários de contentamentos.

Sentados em confortáveis poltronas e com o controle remoto nas mãos,  somos guiados por um universo incógnito. Vemos suas imagens, ouvimos seus sons, imaginamos seus cheiros e suas texturas. Quando nos vem a vontade de vê-lo com nossos próprios olhos e o ímpeto rompante de senti-lo, eles trancam a porta: “Cuidado! O mundo é perigoso e violento. Vemos todos riscos, em suas infinitas histórias de tragédias diárias: mortes, chacinas, tristezas e medo. Muito medo.

Eles nos dizem que aqui dentro tudo é mais seguro e confortável. E sempre nos perguntam qual seria a necessidade de investigar o mundo quando se tem alguém que faça isso sem riscos. Concordamos. Afinal, lá fora tudo é perigoso e podemos ser devorados pelas feras que lá existem.

Com o tempo, nos contentamos com os simulacros. Mesmo nossa curiosidade sendo grande, somos impedidos pelo medo. Queríamos tanto conhecer pelo menos as engrenagens daquele aparelho de onde saem as luzes. 

Sequer eles nós conhecemos. Mas, a final de contas, quem são eles, quem eles pensam que são?

Para nós, são apenas as imagens de seus sorrisos de dentes branquíssimos, reproduzidas em grandes telas de altíssima resolução. Que nos transmite, no riso fácil, a certeza de quem tem sempre a verdade.

Mesmo sem saber onde é esse mundo e se é que ele existe. Mesmo sem saber quem eles são, confiamos neles os nossos olhos e as nossas mãos. Acabamos por entregar a eles as nossas almas. 

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