Eles
nos contam o mundo, nos dizem o que existe lá fora. Nos falam de suas cores,
sons e cheiros. Narram um mundo exótico habitado por animais e plantas que
desconhecemos. Passamos a vida imaginando como seria esse mundo, viajamos nele
em episódios diários de contentamentos.
Sentados
em confortáveis poltronas e com o controle remoto nas mãos, somos guiados
por um universo incógnito. Vemos suas imagens, ouvimos seus sons, imaginamos
seus cheiros e suas texturas. Quando nos vem a vontade de vê-lo com nossos
próprios olhos e o ímpeto rompante de senti-lo, eles trancam a porta: “Cuidado!
O mundo é perigoso e violento.” Vemos
todos riscos, em suas infinitas histórias de tragédias diárias: mortes,
chacinas, tristezas e medo. Muito medo.
Eles
nos dizem que aqui dentro tudo é mais seguro e confortável. E sempre nos
perguntam qual seria a necessidade de investigar o mundo quando se tem alguém
que faça isso sem riscos. Concordamos. Afinal, lá fora tudo é perigoso e
podemos ser devorados pelas feras que lá existem.
Com
o tempo, nos contentamos com os simulacros. Mesmo nossa curiosidade sendo
grande, somos impedidos pelo medo. Queríamos tanto conhecer pelo menos as
engrenagens daquele aparelho de onde saem as luzes.
Sequer
eles nós conhecemos. Mas, a final de contas, quem são eles, quem eles pensam
que são?
Para
nós, são apenas as imagens de seus sorrisos de dentes branquíssimos,
reproduzidas em grandes telas de altíssima resolução. Que nos transmite, no
riso fácil, a certeza de quem tem sempre a verdade.
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