segunda-feira, 22 de julho de 2013

Contradições

"Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida." (Fernando Pessoa)

- Vinícius, você é muito contraditório. 
- É, sou mesmo. Concordo com você. Pensando bem, às vezes, me desconheço tamanha as minhas contradições. 
Hoje, convictamente, digo sim, sem nenhuma dúvida. Carrego aquele sim comigo com ímpeto e o reitero tanto que, no decorrer dos dias, me enfado dele. Passo, então, lentamente à zona do talvez. E quando me assusto, estou dizendo não na mesma convicção que antes.
Isso é de um tanto desconfortável, me faz ser incompreendido, louco e incongruente. Desses crimes sou réu confesso, hoje. Amanhã não sei, posso talvez estar defendendo veementemente a minha sanidade de sujeito normal. Não se assustem se, por acaso, isso vier a acontecer. 
O que é certo é que a incongruência faz parte da vida, ou pelo menos da minha. É a contradição a rotação do mundo: do dia e da noite; do sol e da lua; da terra e do céu, ao estarem ocupando o mesmo espaço no mesmo tempo. É o sim e o não, que, para ser sim, precisa do não e, para ser não, necessita do sim. É o ing-yang.
Pior que assinar o atestado de insanidade ao reconhecer a próprio incoerência, é ter o medo da mudança e resistir ao novo caminho que o vento traça. É ter vaidade das idéias, de modo a não se permitir sequer a possibilidade da transformação. É ser como uma criança que esperneia consigo mesma, não admitindo ser contrariada.  
Não existe para nós humanos o certo-eterno, e não nos cabe a verdade absoluta: propriedade exclusiva de Deus. Como dizia Platão, essa é característica do mundo das idéias. O mundo das coisas, esse nosso mundinho, é o do devir, da dualidade e das antinomias. O que nos é possível é apenas um certo-limitado, caolho e manco, influenciado por nossas experiências e visões de mundo. 
É certo que arranhamos algumas verdades, mas também desprezamos outras tantas. Nossa incompletude está em conhecer limitado, ver limitado, sentir limitado e nos contradizermos ante as nossas limitações. Para que, então, tenhamos a real dimensão da nossa pequeneza.
Quando me disserem que sou contraditório, responderei sorrindo: Graças a Deus!

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