Do
auto do edifício vejo a cidade. Lá de cima, os homens são pequenas formigas,
que perambulam de um lado para o outro. As luzes dos carros são como sangue,
fluindo rápido e constante pelas nervuras vermelhas da cidade.
Lá
de cima, tudo se move: as árvores sacodem-se com o vento, os pássaros riscam o
céu brincando na imensidão do firmamento, o rio de esgoto corta a cidade ao
meio: ele corre com pressa. Apressado também, o sol acaba de se esconder na linha do
dia. Ele já terminou seu expediente diário. Tinha hora marcada e, pontualmente,
precisava partir.
O
relógio, no alto da igreja - imponente e solitário - dá ritmo a todos os
movimentos quando soa freneticamente o tic-tac.
Quando
penso em mim, passo a me desconhecer. Vejo que não sou mais aquele que era a um
segundo atrás. Mesmo relutando em não mudar, sou levado involuntariamente pelas
engrenagens do tempo, que me impedem de permanecer inerte. Aliás, concluo: nada
mais é como era, tudo é novo, tudo é, à cada instante, reciclado.
Lá
de cima observo o ritmo da dança: o desassossego, a efervescência das coisas.
Vejo o sopro divino, transpassando a matéria e deixando as substâncias e os
seres em constante inquietação.
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