sexta-feira, 17 de maio de 2013

O fim das ideologias e o mal da política brasileira


“Ah! eu nem acredito.
 Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
 Mudar o mundo
Freqüenta agora
As festas do ‘Grand Monde’ (...)"
(Ideologia – Cazuza)


- Qual o mal da política brasileira?  Após ligar a TV, e ver o Lula figurando como estrela na campanha de aniversário do PMDB, ao lado de Sarney e outras personalidades da mesma estirpe, essa pergunta tem me tornado cada vez mais freqüente. 

Isso mesmo, o Lula, ex-líder sindical, pretensamente de esquerda, que pregava o socialismo como forma de libertação do país. Um ex-crítico ferrenho ao regime militar, junto de Sarney, o representante-Mor do regime militar e da direita brasileira.

Numa análise superficial, parece que a ausência de caráter dos políticos é a principal razão desse caos institucional que acomete o Brasil desde sua fundação. Mas seria essa a única causa? O problema da política nacional seria exclusivamente o desvio de caráter daqueles que ocupam os espaços de poder? Tenho me questionado.

Sem dúvidas esse é um fator importante a ser considerado na análise da conjuntura política nacional. A ausência de consciência pública dos espaços coletivos e a fragilidade do sistema punitivo para os ‘desvios de conduta’, parecem estar diretamente ligado ao câncer da corrupção que tanto aflige a nação tupiniquim.

No entanto, analisar a questão apenas desse ponto de vista, é lançar um olhar caolho sobre a realidade. Há outros fatores de igual importância a serem considerados além do binômio corrupção/impunidade, que nos capacita compreender mais profundamente as causas dessa experiência política mal sucedida chamada: República Federativa do Brasil.

O próprio sistema político eleitoral brasileiro parece fomentar essas práticas. Começamos então pelo começo, para não sermos redundantes!

Em primeiro lugar, para enfrentar e vencer o pleito eleitoral, exige-se do candidato: dinheiro. O que o condiciona conseqüentemente a alianças com o poder econômico, mediante a busca de financiamentos legais e ‘extralegais’ (usando do bem e velho eufemismo tão praticado na política), para que possa fazer uma campanha bem sucedida, e conseqüente obter vitória na batalha eleitoral.

Uma campanha eleitoral demanda gastos ordinários que vão desde a confecção dos meios de propaganda, até o pagamento de viagens e diárias do candidato e de seus cabos eleitorais; contratação de assessorias jurídicas, etc. Para não esquecer é claro da tradicional compra de votos. Enfim, a campanha eleitoral para ser bem sucedida necessita de dinheiro, e diga-se de passagem: muito! Por isso tratar a questão do financiamento das campanhas é sem dúvidas, tratar do mal ainda na sua gênese.

Se não bastasse toda a farra das eleições; para que o político se mantenha no poder é imprescindível que tenha um poder enorme de negociar, leia-se, estabelecer negociatas. Manter um diálogo com os oposicionistas, ceder, conceder, retroceder, são características consideradas virtudes, que o político deve possuir para exercer o mandato. Portanto, para que haja tais concessões é imprescindível que o político tenha, como característica pessoal, certa dose de renúncia moral e flexibilização ética.

Assim, se o hercúleo político conseguiu manter-se imune a todo esse processo de leilão moral, mantendo suas posições ideológicas durante a campanha política, e principalmente vencendo o pleito, aqui a situação complica, lhe exigindo o triplo de foco e firmeza de propósitos.

Para que possa exercer um bom governo, leia-se, caracterizado por obras (rendimentos objetivos e visíveis à população), o político necessita de apoio institucional dos demais. Nesse momento, entra a figura do típico bom político brasileiro, que segundo o senso comum, é justificado pelo lema do“rouba, mas faz”. Ou seja, o fazer acaba legitimando o roubar.

Aquele que se mantém ileso a esses condicionamentos e resiste bravamente ao “favorzinho”, “a gratificação”, “ao toma lá, dá cá” etc, em troca de apoio político, é considerado como mau administrador, pois não conseguiu que seu mandato fosse caracterizado por resultados visíveis. Em pretensa decorrência da sua incapacidade de estabelecer diálogos com os demais.

Assim, vê-se que a própria noção de governabilidade, isto é: as próprias regras práticas no trato político, acabam por corroer as ideologias, petrificando a política brasileira.

Nesse cenário de retrocessão moral e ideológica, a política é diminuída a luta pela ocupação dos espaços institucionais. As ideologias políticas, dentre as quais se situam: esquerda, direita e o centro(?), quando não consideradas retrógradas, são tidas por entrave ao jogo político. Um enrijecimento que torna inviável a existência de um bom governo, que para ser qualificado como tal, precisa de eliminação dessas ‘diferenças’, para que se possa ter resultados objetivos: obras, obras e mais obras.

A noção de política conhecida classicamente como espaço de debates e cenário onde a dialética é considerada elementar, vai à cada dia perdendo espaço entre a população brasileira.

O critério para a escolha de um candidato, seja ele em qualquer espaço federativo, não se baseia nas idéias que defende e a na posição ideológica que assume. Mas sua possibilidade de trânsito, que enquanto pessoa, ostenta com outras instâncias políticas. E a influência que consegue, em razão do seu poder de estabelecer as negociatas.

Portanto, por mais honestidade de propósitos que possa ter o político, fica quase impossível manter-se imune a um sistema podre que o cerca, sem ser dele extirpado, seja pela força política de seus pares, ou pelo descaso dos cidadãos, que não vê nele nenhuma utilidade.

Enfim, num país onde a maleabilidade ideológica e a flexibilidade de valores (o velho ‘ascender uma vela pra Deus e outra pro diabo) são considerados como virtudes políticas, e qualidades essenciais ao homem público, ostentando como requisitos elementares de um governo bem sucedido; a questão é muito mais profunda que se imagina. Não se resumindo ao maniqueísmo simplista que tende a resolver a situação com o foco nas virtudes pessoais do candidato.

Lutar contra esse mal, é caminhar no sentido de construir uma nova forma de pensar a gerência e a finalidade do Estado, e de tratar os espaços públicos enquanto públicos. Enfim, tudo se resume a uma questão de educação política.
  

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