“Ah! eu nem acredito.
Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Freqüenta agora
Freqüenta agora
As festas do ‘Grand Monde’ (...)"
(Ideologia
– Cazuza)
- Qual o mal da política brasileira? Após
ligar a TV, e ver o Lula figurando como estrela na campanha de aniversário do
PMDB, ao lado de Sarney e outras personalidades da mesma estirpe, essa pergunta
tem me tornado cada vez mais freqüente.
Isso mesmo, o Lula, ex-líder sindical,
pretensamente de esquerda, que pregava o socialismo como forma de libertação do
país. Um ex-crítico ferrenho ao regime militar, junto de Sarney, o
representante-Mor do regime militar e da direita brasileira.
Numa análise superficial, parece que a ausência de
caráter dos políticos é a principal razão desse caos institucional que acomete
o Brasil desde sua fundação. Mas seria essa a única causa? O problema da
política nacional seria exclusivamente o desvio de caráter daqueles que ocupam
os espaços de poder? Tenho me questionado.
Sem dúvidas esse é um fator importante a ser
considerado na análise da conjuntura política nacional. A ausência de
consciência pública dos espaços coletivos e a fragilidade do sistema punitivo
para os ‘desvios de conduta’, parecem estar diretamente ligado ao câncer
da corrupção que tanto aflige a nação tupiniquim.
No entanto, analisar a questão apenas desse ponto
de vista, é lançar um olhar caolho sobre a realidade. Há outros fatores de
igual importância a serem considerados além do binômio corrupção/impunidade,
que nos capacita compreender mais profundamente as causas dessa experiência
política mal sucedida chamada: República Federativa do Brasil.
O próprio sistema político eleitoral brasileiro
parece fomentar essas práticas. Começamos então pelo começo, para não sermos
redundantes!
Em primeiro lugar, para enfrentar e vencer o pleito
eleitoral, exige-se do candidato: dinheiro. O que o condiciona conseqüentemente
a alianças com o poder econômico, mediante a busca de financiamentos legais e ‘extralegais’ (usando
do bem e velho eufemismo tão praticado na política), para que possa fazer uma
campanha bem sucedida, e conseqüente obter vitória na batalha eleitoral.
Uma campanha eleitoral demanda gastos ordinários
que vão desde a confecção dos meios de propaganda, até o pagamento de viagens e
diárias do candidato e de seus cabos eleitorais; contratação de assessorias
jurídicas, etc. Para não esquecer é claro da tradicional compra de votos.
Enfim, a campanha eleitoral para ser bem sucedida necessita de dinheiro, e
diga-se de passagem: muito! Por isso tratar a questão do financiamento das
campanhas é sem dúvidas, tratar do mal ainda na sua gênese.
Se não bastasse toda a farra das eleições; para que
o político se mantenha no poder é imprescindível que tenha um poder enorme de
negociar, leia-se, estabelecer negociatas. Manter um diálogo com os
oposicionistas, ceder, conceder, retroceder, são características consideradas
virtudes, que o político deve possuir para exercer o mandato. Portanto, para
que haja tais concessões é imprescindível que o político tenha, como
característica pessoal, certa dose de renúncia moral e flexibilização ética.
Assim, se o hercúleo político conseguiu manter-se
imune a todo esse processo de leilão moral, mantendo suas posições ideológicas
durante a campanha política, e principalmente vencendo o pleito, aqui a
situação complica, lhe exigindo o triplo de foco e firmeza de propósitos.
Para que possa exercer um bom governo, leia-se,
caracterizado por obras (rendimentos objetivos e visíveis à população), o
político necessita de apoio institucional dos demais. Nesse momento, entra a
figura do típico bom político brasileiro, que segundo o senso comum, é
justificado pelo lema do“rouba, mas faz”. Ou seja, o fazer acaba
legitimando o roubar.
Aquele que se mantém ileso a esses condicionamentos
e resiste bravamente ao “favorzinho”, “a gratificação”, “ao
toma lá, dá cá” etc, em troca de apoio político, é considerado como
mau administrador, pois não conseguiu que seu mandato fosse caracterizado por
resultados visíveis. Em pretensa decorrência da sua incapacidade de estabelecer
diálogos com os demais.
Assim, vê-se que a própria noção de
governabilidade, isto é: as próprias regras práticas no trato político, acabam
por corroer as ideologias, petrificando a política brasileira.
Nesse cenário de retrocessão moral e ideológica, a
política é diminuída a luta pela ocupação dos espaços institucionais. As
ideologias políticas, dentre as quais se situam: esquerda, direita e o
centro(?), quando não consideradas retrógradas, são tidas por entrave ao jogo
político. Um enrijecimento que torna inviável a existência de um bom governo, que
para ser qualificado como tal, precisa de eliminação dessas ‘diferenças’, para
que se possa ter resultados objetivos: obras, obras e mais obras.
A noção de política conhecida classicamente como
espaço de debates e cenário onde a dialética é considerada elementar, vai à
cada dia perdendo espaço entre a população brasileira.
O critério para a escolha de um candidato, seja ele
em qualquer espaço federativo, não se baseia nas idéias que defende e a na
posição ideológica que assume. Mas sua possibilidade de trânsito, que enquanto
pessoa, ostenta com outras instâncias políticas. E a influência que consegue,
em razão do seu poder de estabelecer as negociatas.
Portanto, por mais honestidade de propósitos que
possa ter o político, fica quase impossível manter-se imune a um sistema podre
que o cerca, sem ser dele extirpado, seja pela força política de seus pares, ou
pelo descaso dos cidadãos, que não vê nele nenhuma utilidade.
Enfim, num país onde a maleabilidade ideológica e a
flexibilidade de valores (o velho ‘ascender uma vela pra Deus e outra
pro diabo) são considerados como virtudes políticas, e qualidades
essenciais ao homem público, ostentando como requisitos elementares de um
governo bem sucedido; a questão é muito mais profunda que se imagina. Não se
resumindo ao maniqueísmo simplista que tende a resolver a situação com o foco
nas virtudes pessoais do candidato.
Lutar contra esse mal, é caminhar no sentido de
construir uma nova forma de pensar a gerência e a finalidade do Estado, e de
tratar os espaços públicos enquanto públicos. Enfim, tudo se resume a uma
questão de educação política.
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