sábado, 12 de janeiro de 2013

Grito



“É possível gritar bem alto em voz bem baixa”
- Nachman de Breslau.


Quero gritar. Não sei o que. Não sei pra quem. Palavras? Não. O que sinto é de tamanha complexidade que as palavras me faltam.

Quero um som sem significação, um barulho em si, ausente de mensagem verbal. Uma manifestação existencial animalesca: pura e simplesmente o soar do aparelho vocal.

Um mugido, um ronco, um berro, um brado, uma exclamação! Quero apenas um som, que saia da alma, através da boca e que exprima a angústia que é existir e se suportar em milhares de células compostas por outros milhares de átomos. Um som que manifeste a agonia que é estar preso a esse boneco de barro que fala, e sente, e busca, em todos os instantes, um sentido para tudo que o rodeia.

Busco um som, que saia de uma alma amante da liberdade, mas que momentaneamente encontra presa a um corpo que a escraviza. Dessa alma presa a um mundo fenomenológico, cheio de coisas, objetos: concreto em si e que a impede de ir e ser além dele.

Quero soar o clarim, que nos faça acordar desse pesadelo coletivo, que nos desperte dessa tortura que tem sido o silêncio. Quero um ruído, que ao invés de ser percebido pelos ouvidos, seja sentido pela alma. Busco a comunicação entre as almas. A linguagem da alma, alheia ao corpo.

Um grito, que ao invés de ser despejado pra fora, ecoe dentro. Um grito mudo, que para os outros, seja apenas um gemido. Mas que, por dentro, re-arrume, desarrume e desperte!

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