quarta-feira, 1 de junho de 2011

Metalinguagem


O ato de escrever - pra mim - se compara ao processamento fisiológico do vômito. Tudo começa quando se adquire uma quantia significativa de informações advindas da nossa realidade, seja lendo, vendo, ouvindo, sentindo... Informações essas das mais diversas, sejam boas, más, insignificantes ou não. Absorvemos os diversos estímulos do mundo e suas informações, e em seguida mastigamos tudo aquilo, engolindo goela abaixo, repassando todos esses dados à memória.
Essa soma de informações trituradas para facilitar o raciocínio, é misturada aos sucos gástricos dos valores, das ideologias, do caráter de cada um, das individualidades. Até formar uma massa homogênea, composta da misura entre informações percebidas e as concepções e valores daquele que as percebeu.
O processamento desses ingredientes tão díspares, produz gases, frutos da interação entre aquilo que é advindo de fora, com o que é produzido pelo próprio sujeito. Essa mistura toda, pela sua pluralidade de componentes, torna-se inquietantemente ebulitiva. O que incomoda, provoca ânsias, ocasiona náuseas: que nada mais é, que a vontade de escrever. Aquela que vem e passa rapidamente, aquele texto que agente tenta desenvolver, mas só saem palavras sem nenhum sentido conjunto.
Esses são os primeiros sintomas da parição literária, um mal-estar de pensamentos, ocasionado por essa efusão das múltiplas informações, valores, percepções, captadas, acrescidos aos valores e compreensões do sujeito que os apreendem.
Assim como quem está prestes a lançar um vômito, o sujeito desse processo, pega no papel, escreve algumas frases soltas desconectas, que nada mais são que os arrotos, as flatulências. Que fluem de forma veloz pela mente, numa inconstância característica.
Até que um determinado momento, de modo quase involuntário, sai tudo de uma vez. Aqueles pensamentos todos são expelidos para fora, na forma de textos, crônicas, poesias, artigos científicos, etc. Lançamos tudo aquilo de uma só vez, escrevemos o que temos pronto, de uma hora pra outra. E contemplamos, enojados ou não, nossa produção estomacal.

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