quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A deturpação da fé.

          Uma das coisas tem me intrigado nos últimos dias tem sido o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil. Esse aumento tem ocorrido de tal forma ,que praticamente todos os dias cria-se uma igreja nova no Brasil.
        A mídia gospel tem alcançado o gosto popular. As ditas “marchas pra Jesus” têm arrastado multidões por todo o país. A qualquer hora do dia ou da noite que se liga a televisão, lá está um pastor aos berros, falando da Bíblia. A  indústria gospel tem ganhado espaço na mídia atual. Em especial a música que conquistou espaço em todos os ambientes que se possa imaginar: boates,  filmes, novelas e até mesmo na última parada gay de São Paulo.
       Essa tem sido a realidade brasileira. O número de igrejas e consequentemente, de pessoas que se denominam evangélicas tem aumentado de maneira progressiva ultimamente. É por  esse fato que a mídia gospel a cada dia ganha relevo no cenário midiático nacional.
      Todas essas coisas teêm me levado a uma série de questionamentos: será que os pensamentos de Cristo estão ganhando mais relevância no Brasil? As pessoas estão mesmo preocupadas na pregação do Evangelho, com sua salvação e com a dos outros? Estão cumprindo com o que Jesus dizia?
       Por mais incoerente que isso possa parecer, mesmo com o enorme crescimento do número de evangélicos, penso que cada vez menos os pensamentos de Cristo estão sendo seguidos pela sociedade contemporânea. O que há é uma perda progressiva desses valores, ou melhor, uma distorção das idéias de Cristo de modo a legitimar certos pensamentos que não estão ancorados pela doutrina cristã.
        O mundo hodierno passa por uma crise moral e ética, que culminou ao ponto de alcançar até as igrejas. Casos como os dos bispos Macedos, Hernandes, e outros, envolvidos em crimes como: organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e estelionato, dentre inúmeros outros, ultimamente têm sido notícia corriqueira nos telejornais do país. Infelizmente isso mostra como a nossa sociedade tem interpretado a doutrina cristã, totalmente disforme do que preceitua as Sagradas Escrituras. 
       A igreja, inserida nessa lógica, ganhou ares de empresas, seu o objetivo precípuo é o lucro, o dinheiro.  Passa a ser governada, não por princípios de ordem religiosa, mas pela lógica de mercado. As pessoas são condicionadas a comprarem em nome de Deus, a ofertarem em nome dele, a pagarem dízimos, etc...
    Cristo tem se tornado uma espécie de “garoto propaganda”, seu nome, os símbolos de seus pensamentos têm estado em toda a sorte de objetos de consumo, e tem de sido usado como impulso ao consumismo desenfreado, prática  característica das sociedades capitalistas.
       A chamada “teologia da prosperidade”, defendida pelos neo-pentecostais, cumpre com a função de atribuir aos textos bíblicos uma interpretação totalmente errônea, fruto de um delírio hermenêutico por parte de seus líderes, e em conformidade com esses novos fins da igreja. Segundo essa teoria, a realização espiritual está totalmente vinculada à realização econômica. O que tem levado as pessoas a buscarem na fé cristã a prosperidade econômico-financeira, e não a salvação de suas almas, a realização espiritual. Com isso,  tem-se distorcido a filosofia cristã,  de modo que com isso, possa-se atender os interesses de um mercado que cresce constantemente.
         O capitalismo atual descobriu na fé, uma nova forma de sustentação. A filosofia cristã está sendo corrompida, de modo servir de base a um sistema econômico  que a ela se contrapõe claramente, pois tem como lógica a exploração do homem pelo homem, a opressão e a desigualdade social. O amor ao próximo, a humildade, a justiça, a salvação do homem - temas centrais da doutrina cristã- foram colocados como pano de fundo de um discurso que na verdade, tem por fim o dinheiro, e nada mais.
      Todas essas coisas me fazem lembrar daquela passagem bíblica,  na qual Jesus chega ao Templo e lá encontra várias pessoas vendendo pombos, moedas e toda espécie de bugigangas. Tomado de uma indignação e revolta, começa a derrubar as mesas dos vendedores e diz indignado: “A minha casa será chamada casa de oração – mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” (Mateus 21:13).
     Da análise da vida de Cristo, vê-se que este foi o único momento da sua vida em que ele  se revolta de tal modo. Pois, mesmo passando por situações difíceis ao logo de toda a sua vida terrena como: quando Pedro  - o seu melhor amigo - o nega por três vezes, quando é traído por Judas, quando escarram no seu rosto, quando é tentado pelo diabo, Jesus não se aborrece, nem se mostra tão indignado como nesta situação.
      Isso mostra a seriedade do problema de inserir um sistema de mercado dentro da igreja, que deveria ser tida precipuamente como um espaço de oração e de busca de uma comunhão espiritual. Assim como, também demonstra a incoerência e a insustentabilidade que há nos discursos de pessoas que dizem ser cristãs, mas que praticam atitudes totalmente repreendidas por Cristo.
    Infelizmente, o que está posto não deve de maneira nenhuma ser chamado de cristianismo, nem essas pessoas de cristãs. Trata-se na verdade, da escandalização do nome de Cristo, da ridicularização de suas idéias, da deturpação de seus pensamentos e ensinamentos. Enfim, consiste em uma forma de conciliar as idéias cristãs, com um sistema capitalista, auxiliando-o na sua perpetuação.
      O que ocorre na sociedade brasileira atual não é o crescimento do número de cristãos, mas, é uma constante negação à prática cristã, vinda de pessoas e instituições religiosas que estão longe de merecerem serem chamadas de seguidoras de Cristo.

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