Recordações
Aquela era uma manhã como as demais. Estávamos todos em fila, tínhamos acabado de cantar o hino nacional. A professora Ângela já tinha dado os informes da semana e também chamado a atenção de alguns de nós, como de costume. Passava então ao início de seus belos discursos, que eram sempre motivadores, conselheiros e carregados de certa carga de moralidade e reflexão.
Naquele dia ela havia começado suas palavras chamando a nossa atenção para a data - era o dia nove de Setembro de 1999 - ou seja, 09/09/99. Uma data especial e rara de ser repetida. Afirmava a professora que só dali a dez anos teríamos novamente aquela coincidência no calendário.
A partir desse raciocínio, ela passou a fazer previsões para o futuro, do que seríamos, de onde estaríamos, etc. E com isso nos alertava para a importância de se levar os estudos com afinco, pois assim teríamos um futuro brilhante pela frente.
Não sei explicar o porquê, mas essa foi umas das cenas que nunca saíram da minha memória. Lembro-me como se fosse hoje, eu no início da fila ouvindo aquelas palavras de uma das minhas maiores mestras. Naquele momento, minha mente saia dali, do pátio do Colégio Cenecista, e se transpunha ao terreno metafísico do futuro.
Imaginava como seria o futuro. Onde estaria naquele longínquo 09/09/2009? Oque estaria fazendo com 20 anos de idade? Será que estaria terminando o curso de Direito? Será que estaria feliz? Enfim, estava cheio de perguntas, e esperanças.
Hoje, dia 09/09/2009, faço o caminho inverso do que fiz naquela manhã, e ao invés de me projetar para o futuro, volto ao passado e passo a pensar no quanto tudo passou tão rápido. Parece que foi ontem que eu estava ali ouvindo aquelas palavras. Percebo que durante esse intervalo de tempo se passaram 10 anos. Uma década inteira! E o futuro que parecia estar ao distante, agora se materializa à minha frente como presente.
O mundo durante esses dez anos de intervalo girou inúmeras vezes. E entre um giro e outro foram se passando os dias, os meses e os anos. Mas parece que ainda se manteve na mesma posição em que estava, tudo continua no mesmo lugar e do mesmo modo. E eu, nesse intervalo de tempo, pareço ter ficado sobre um peão desgovernado, que fez com que essa década passasse tão depressa que mal tive tempo de parar para refletir.
Hoje me sinto como quem sai do meio de um redemoinho, meio zonzo, sem senso de localização. Munidos das três perguntas bases da filosofia: Quem sou? Onde estou? Para onde vou? Trago comigo a impressão de que a vida passa tão depressa que não tive tempo de aprender o que quero, de ser feliz como quero, de realizar os meus sonhos. Nem tenho tempo de crescer como pensava que seria possível, aquele menino de 10 anos ainda continua presente em mim. Só agora tive a dimensão do quanto de tempo que se passou entre esses noves de Setembro.
Por mais incrível que possa parecer, ao invés de estar com mais respostas acerca dos mistérios da vida, tenho mais perguntas a serem respondidas.
Hoje, não ouso fazer previsões para a próxima década, como fiz quando criança. Me limito a viver o presente com o olhos voltados para chão e ver somente até onde a minha vista alcançar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário