"Uma gente que ri quando deve chorar...."
Ninguém a compreendia. Pobre, com três filhos ainda pequenos; morava em um barraco de lona que mal dava pra se esconder do sol. Era feia; baixa, da cara bolachuda e das canelas finas e tortas. Trabalhava como uma escrava. Seu ordenado sequer poderia ser chamado de mínimo. Com ele muito mal ela comia, mal dava para alimentar as crianças
Seu trabalho era pesado. Fazia de tudo na casa da patroa; lavava, passava, cozinhava e cuidava de duas crianças. No final de semana, pra cumprir o ditado que diz: “pobre quando descansa carrega pedra”, colocava as crianças em cima de uma carroça velha, e ia catar papelão pelas ruas da cidade.
E lá ia ela, cantarolando e espalhando 'bom dia' para todos que encontravam durante sua peregrinação. Ela fazia, do lixo dos outros o seu pão-de-cada-dia, e da maldição a bendição.
Mas, mesmo com todas essas adversidades da vida, tendo todos os motivos para a infelicidade; ela mantinha consigo a felicidade. A tal paz de espírito que todos procuravam Maria tinha. Era dona de uma alegria, que irradiava para todos, como a luz de um amanhecer.
Vivia sempre sorrindo, mostrando aquilo que, há muito tempo, fora chamados de dentes, e que agora não passava de um monte de cacos dentro de uma boca. Mesmo assim, seu sorriso era lindo, pois não mostrava sua boca banguela e feia, mas refletia a alegria de uma alma plena.
Maria tinha um amor incondicional pela vida, e mesmo tudo conspirando contra a sua vida, ela teimava em viver e mais que isso, ousava ser feliz. Por mais que a fome a miséria a condenasse a uma vida de infelicidades, Maria se sobrepunha a todas essas coisas e mostrava que era possível ser feliz. Lutava, persistente, todo os dias, sem jamais mostrar-se cansada ou abatida.
Maria não tinha inveja nem rancor de ninguém, não cobiçava as coisas alheias não amaldiçoava sua sorte. O pouco que possuía era fruto de seu suor, de seu trabalho pesado. As coisinhas pobres, seu barraco de lata, sua charrete e seu burro velho, eram produtos de um trabalho digno e não da caridade alheia.
Maria era a prova de que pra ser feliz não é necessário ter dinheiro, status social ou beleza. Ela era feliz, simplesmente por estar viva e por manter-se num contato contínuo com o transcendente. Por isso era tão estanha, incompreendida aos olhos dos outros. Ela era, nesse mundo capitalista mesquinho, uma incógnita. Mostrava a todos que a felicidade é desvinculada das coisas terrenas.
Olho Maria nos olhos, e os meus se enchem de lágrimas! Penso que Maria deve ter sido uma das pessoas daquela multidão que Deus mostrou a João na Ilha de Patmos. Um povo que, mesmo vindo de tempos futuros de grandes tribulações, trazia consigo cânticos e palmas nas mãos. Pessoas, que mesmo vivendo em um mundo em crise, mantinham um contanto íntimo com Deus que os capacitava abstrair de todas as coisas ruins que há nessa terra.
Com certeza, entre aqueles inúmeros rostos sorridentes, estava o de Maria.
Ainda bem que Maria não é apenas um personagem de um texto, ela é viva, está por ai espalhada pelo mundo trazendo um pouco de luz a esse mundo cercado de trevas.
Esse texto é em homenagem as Marias que tive a sorte de conhecer pelo mundo e que fizeram refletir na existência.
Um comentário:
Um brinde à vc, Vinicius, que consegiu ver esta Maria tão sem cor e desfocalizada !!!
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