O inalcançável futuro.

Um dia desses, após uma aula de Filosofia Jurídica com o Prof. Dr. Maldonado, parei para pensar em uma questão muito interessante que ele levantou em sala de aula: a vivência humana e a idéia do futuro. De que maneira se dá esse relacionamento do homem com o futuro, e quais as conseqüências disso na nossa existência. Achei o tema muito interessante, e resolvi escrever algumas coisas sobre.

Dizia ele, que uma das características da espécie humana - se é que é possível chegar a uma - é a capacidade que o homem possui de vislumbrar o futuro. O homem é o único dos seres que consegue ter em mente a idéia de um amanhã. Os demais animais desconhecem esse tipo de pensamento, não são capazes de vislumbrar a vida para além do agora. Para eles a vida se resume ao que vivem a cada momento.

Com essa forma de ver o tempo, passamos a deixar de lado nossa vida cotidiana e os fatos do momento histórico onde estamos situados, e a nos dedicarmos a uma vida futura, um porvir, que nunca chega, e que sempre se mantém num horizonte inalcançável. Isso quando não nos mantemos atrelados em um saudosismo nostálgico que nos impede de vivermos a nosso tempo.

Toda essa nossa relação com o tempo nos causa uma ansiedade tremenda e conseqüentemente uma frustração. No amanhã colocamos os nossos sonhos, felicidades e expectativas, com isso deixamos de viver o hoje, de ser feliz com o que temos agora. E assim a cada dia vemos que somos menos felizes. Vivemos parte da nossa vida falando frases como “quando eu crescer”, “quando eu passar no vestibular”, “quando eu ganhar dinheiro.”, “quando...”, “quando...”

O que nos alimenta e nos dá força para continuarmos vivendo, não é o presente, mas o fato de sabermos que no futuro as coisas hão de melhorar, que haveremos de ser felizes. Ou seja, passamos a ver a felicidade com uma meta a ser alcançada, e não como um estado de espírito que devemos ter em todos os instantes da vida. A existência, portanto, passa a ser uma atividade com outro fim que não ela mesma, o que os gregos denominavam de atividade técnica, diferentemente da atividade ética que é aquela onde o fim seria ela mesma (autotélica), onde o sujeito e a ação se confundiam.

Isso faz de nós seres infelizes, pois buscamos essa felicidade que a cada dia se torna mais difícil de ser conquistada e mais distante de nós. A vida então passa a ser uma caminhada aonde nunca se chega ao alvo almejado e a felicidade se mantém num infinito inalcançável.

Analisando um pouco dos pensamentos de Cristo, vi que este se contrapõe a essa de busca da felicidade na idéia de futuro. Em várias passagens bíblicas, Jesus disse que não deveríamos nos preocupar com o dia de amanhã, pois segundo Ele, “cada dia é o dono de seu mal”. Nem o que haveríamos de comer, de beber, vestir, pois o Pai que alimentava os passarinhos, não nos deixaria perecer. Quanto ao que haveríamos de vestir, que também não nos preocupássemos, pois nem mesmo Salomão com toda a sua riqueza, nunca se vestiu como os Lírios dos Campos, e que o mesmo Deus que os veste não nos deixaria desamparados.

Creio que com isso Jesus nos deu muito mais do que um simples ensinamento, mas a receita para a verdadeira felicidade, que não se deve buscar algum lugar ou coisa, mas se ter, se viver. Ensinou a não vivermos em função daquilo que nunca chega, ou seja, do futuro, mas nos mantermos atrelados com o presente, e nele sermos aquilo que queremos ser, vivermos o que desejamos viver, pois o futuro é mera abstração humana, o que existe é a vida presente.

Somente dessa maneira será possível sermos felizes, e nos tornarmos inesquecíveis, assim como Ele foi. Ao invés de colocarmos a nossa felicidade para o além, e corremos atrás dela, devemos trazê-la para onde nos situamos, fazendo a nossa companheira de viagem, de uma caminhada onde a nossa chegada é sempre o hoje.