Um desabafo...
Um dos meus planos de vida é, e sempre foi, possuir um curso superior. Desde criança que venho alimentando esse sonho. Nem me lembro por certo, em que momento da minha vida, foi que me despertou essa vontade de fazer o curso de Direito. Minha mãe diz que desde pequeno eu já dizia que quando crescesse seria juiz, (iludido que a atuação jurídica se resumia a magistratura).
Cresci cultivando em mim esse desejo que cada vez mais só aumentava. Durante o terceiro ano do Ensino Médio e os seis meses de cursinho, crescia em mim a vontade de cursar Direito, não me restava nenhuma dúvida quanto a isso. Sonhava com a minha entrada em uma Universidade Pública, um ambiente que em minha cabeça, seria democrático, justo, ético, onde as minhas opiniões seriam ouvidas, e que o conhecimento seria transmitido de maneira intensa e prazerosa.
Prestei o vestibular da UNEMAT em meados de 2007 e graças a Deus consegui passar. Fiquei muito feliz com essa vitória que eu havia conquistado, por meio de tanto estudo e dedicação. Mudei-me de Cuiabá para Cáceres, e iniciei a concretude de um dos meus grandes sonhos: cursar Direito.
Durante o primeiro semestre foi tudo festa, alegria e descontração. Um novo mundo se abria à minha frente, uma nova cidade, novos amigos, a idéia de morar só significava para mim uma liberdade enorme. Eu passava a ver que uma nova fase da minha vida se iniciava e, diga-se de passagem, de maneira esplêndida. Creio que esse foi um dos momentos mais interessantes e alegres da minha vida. E que hoje restaram ainda boas lembranças.
Com o passar do tempo fui conhecendo cada vez mais da estrutura da UNEMAT, de como essa máquina funcionava. Passei de uma visão imatura e idealizada, a uma realista. De um ângulo de fora, passei a ver por dentro como as engrenagens dessa máquina girava, e de como estabelecia ali as formas de poder. O que antes eu só via por fora, agora já se mostrava internamente, de modo diferente, e totalmente incoerente com o que eu entendia por ser uma Universidade Pública.
A imagem de uma Universidade construída pelos seus três segmentos (docentes, discentes e técnicos), que as suas decisões seriam democráticas, onde se formassem pessoas com censo crítico, se contrapunha a Universidade que se apresentava à minha frente. A Universidade idealizada, que eu havia conhecido nos livros era totalmente daquela que eu via todos os dias em sala de aula.
A total falta de espírito crítico nas aulas, a gigante alienação dos alunos, a falta de decência, ética e capacidade intelectual dos professores me assustava. Isso não deixava com que eu continuasse a ter aquela visão ingênua que tinha outrora. Passei então apartir desse momento a ter uma visão real do que era uma Universidade pública, em especial do que era a UNEMAT.
As coisas com o tempo parecem que pioravam cada vez mais, pensei que talvez fosse algo momentâneo, que passaria. Que seria uma crise, mas que essa não era a lógica de funcionamento da instituição, ou melhor, não poderia ser. Pura ingenuidade da minha parte. Via que com o decorrer do curso aquela situação se potencializava. Notava que cada vez mais a demagogia, a hipocrisia imperava em todos os setores da Universidade, tanto da parte dos professores, alunos e técnicos. Isso, ao mesmo tempo em que causava em mim uma decepção, criava uma revolta com aquilo que estava vivendo, ou seja, uma vontade de querer mudar essa situação catastrófica que passava a UNEMAT. Passei então a ver como as pessoas na Faculdade de Direito agiam de forma incoerente: defendiam determinados posicionamentos, que na realidade não passava de pura demagogia, e de vã filosofia.
Movido por essa indignação e por um espírito de mudança, comecei a participar do Movimento Estudantil (DCE, CADIR), cheguei até a compor o Centro Acadêmico de Direito, gestão de 2008. Passei a ir às reuniões, a me interar dos problemas dos acadêmicos, a tentar fazer alguma coisa por essa Universidade, que, aos poucos, ia de mal a pior. O Direito me auxiliava nisso, como norma do dever-ser, me mostrava qual seria o norte que a Universidade deveria seguir se cumprisse com a lei. Ver que a UNEMAT descumpria o que dizia a Constituição Federal e outras leis, o que eu estudava todos os dias, me indignava e me impulsionava a lutar cada vez mais.
Movido por esse sentimento subi em palanques, peguei em microfones, exigi, gritei, etc. Estive na ocupação à Reitoria, em Audiências Públicas na Assembléia Legislativa do Estado, por duas vezes. Participei da organização de duas Semanas Jurídicas (2007 e 2008) e da Mostra Científica Levi Alt (2008), enfim lutava de modo intenso para mudar essa realidade. Não poderia me sentir confortável diante dessa realidade que era totalmente injusta e ilegal. Vi que exigir o cumprimento da lei não era uma tarefa fácil na UNEMAT, o que me parecia algo totalmente incoerente.
Semestre passado (2009/1) fui Delegado do curso de Ciências Jurídicas no II Congresso Universitário, que infelizmente até hoje não foi homologado pela gestão da UNEMAT. Um gasto de mais de 300 mil reais do dinheiro público. Passei 4 dias (de manhã à noite) em reuniões discutindo com mais de 250 pessoas a Universidade, e votando o tão sonhado Estatuto, que até agora não passa de mera utopia. Pois como de costume a gestão da Universidade não se importava com a vontade da maioria e com o principio da democracia nas decisões de uma instituição pública.
A ilegalidade, a imoralidade, a desonestidade, a falta de ética me cercava por todos os lados, principalmente na Faculdade de Direito. E eu continuava persistente e cada vez mais indignado. Pensava que poderia mudar aquela situação. Ai começaram a vir as retaliações por todos os lados, por mais incrível que pareça, até da própria classe discente que eu sempre defendia. Via que os estudantes - a classe mais prejudicada com essa situação - defendiam as ilegalidades que ocorriam na academia. Uns por plena ignorância, mas a maioria por falta de ética mesmo.
Passei a ver que eu estava gastando todas as minhas energias em algo que infelizmente não surtia resultados nenhum. Me via lutando, lutando, nadando contra uma correnteza que me levava. Que sozinho e sem a participação dos alunos nada era possível de ser mudado, que eu era apenas um grão nesse deserto imenso, e que lutar sozinho não passava de fadiga. E que exigir o cumprimento da lei na UNEMAT, se tornava cada dia mais impossível.
A situação na Universidade e especialmente no curdo de Direito chegou a um momento tão ilógico, que a situação se inverteu de maneira repentina. De prejudicados com uma situação de ilegalidade e desrespeito aos nossos direitos, passamos a ser visto como os geradores daquela situação. De uma posição de vítimas passamos ao “banco dos réus”, e apartir desse momento foi que as retaliações passaram a se manifestar de forma explícita. Não tínhamos praticamente apoio nenhum, nem dos professores, e muito menos dos alunos, que se mostravam apoiando aquela situação.
Fui então da empolgação ao desânimo total, pensei até mesmo em trancar o curso e me transferir para Cuiabá. Desiludi-me com tudo, com a Universidade, a Faculdade de Direito, o Movimento Estudantil, etc. Tudo isso que eu passava na Universidade, somado a outros problemas, não menos sério que eu passava em Cáceres, me levaram a tomar essa decisão. Graças aos meus amigos, que aqui sempre foram o meu apoio. Principalmente aos conselhos dos meus amigos: Késia e Felipe acabei mudando de idéia. Coisa que agradeço a Deus e a eles, pois se tivesse tomado essa decisão tenho certeza que já teria me arrependido.
Hoje chego ao quinto semestre (metade do curso), com outra visão da Universidade, do movimento estudantil, e principalmente das pessoas que compõe essa Universidade, tanto dos professores, dos alunos, dos técnicos e da gestão. Com isso, creio que cresci muito enquanto pessoa. Aprendi a lidar com situações adversas, com pessoas sem escrúpulos, decência e ética, e a ver “a vida como ela é”. Amadureci muito durante esse tempo, derrubei alguns de meus ídolos, algumas verdades minhas, com isso me reconstrui, enfim, cresci.
Decidi desistir da minha atuação no Movimento Estudantil, jamais dos meus ideais. Vi que no momento a única coisa a qual devo me dedicar é ao estudo e que somente assim, é que se é possível fazer alguma coisa para mudar essa situação. Pois antes de se exigir é necessário ser ouvido. Porque infelizmente são assim que as coisas no Brasil funcionam, e de forma potencializada na UNEMAT. Nós “comuns do povo’’ não temos voz e nem vez, nas tomadas das decisões políticas. É necessário para que possamos mudar a realidade que primeiramente conquistemos o poder, pois somente assim é que se ecoará a nossa voz no espaço, e que seremos vistos enquanto cidadãos.
Passei a adotar o seguinte pensamento: analisando a atual situação que se encontra a sociedade brasileira, e no mesmo sentido a UNEMAT, só é possível a sua mudança de dois modos: ou partindo-se da base para o topo da pirâmide (mediante os movimentos sociais, coisa que vi que não deu certo, e que não passou de canseira), ou fazendo o caminho inverso do topo para a base, com a conquista do poder.
O que me deixa alegre, (olhando as flores ao invés do deserto, é claro), se é que é possível ficar alegre com essa situação, é ver que apesar de todas as decepções em que passei, continuo com os meus ideais, a minha ética, não me deixei contaminar. Assim como não me deixei intimidar pelas retaliações que me vieram, e que durante esse tempo todo não fui omisso, que tentei de todas as maneiras mudar. Mas infelizmente as coisas na realidade nem sempre funcionam como deveriam, e que nem sempre o lado melhor é o vencedor. Que lutei com todas as minhas forças para mudar, mas que infelizmente não foi possível. Hoje, como um bom perdedor, reconheço publicamente a minha derrota, não só minha, mas a com a de todos os que lutavam comigo por uma Universidade melhor.
Dou graças a Deus por não ter debandado para o outro lado dessa situação, como vi que muitas pessoas fizeram. Nas palavras do grande Darcy Ribeiro: “Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas."
2 comentários:
compartilho desse desbafo.
saudaçoes da MP
:)
Rapaz!!
Vc esta no caminho certo, e tenho a plena certeza de que realmente esta Fazendo Direito, não somente sendo uma Vaquinha de PResépio!!
Direito é isso, é luta é debate é retaliação é enfretamento!!
uahuahuahau
Vamos pra CIMA!!
uahuah
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